Minha avó tinha um terreiro de umbanda e eu vivia la.. desde os meus 7 anos. Achava lindas as músicas, as roupas, os tambores. Minha pergunta freqüente era: quando vou incorporar também? Eles respondiam: aos 16 anos e eu contava os dias. Mas fui crescendo, e fui me interessando menos, aquilo não era mais novidade pra mim, minha avó foi reduzindo o numero de trabalhos, eu já preferia sair com minhas amigas e fui esquecendo.
Quando completei 15 anos comecei a ir a shows, festas e etc.. mas comecei a beber aos 16. E o que eles disseram de uma forma se tornou real. Eu bebia e esquecia das coisas, não lembrava nem de ter saído. Entrei em depressão e comecei a desejar muito a morte. Mas fui até um centro kardecista e lá eu melhorava, mas eu era dependente dali, só melhorava enquanto eu estava presente no centro, quando me afastava, começava tudo de novo.
Aos 18 tudo piorou, eu bebia muito mais e nunca lembrava nem de ter saído. Comecei a brigar na rua e minha força era sobrenatural. Até que um dia eu tentei suicídio e dizia que meu avô – que já havia partido estava ali pra me buscar e por isso eu tomei os remédios. Minha força não se comparava a nada. Mas conseguiram me levar ao hospital.
Após esse dia eu não lembrava o motivo de tentar o suicídio, mas me tornei uma pessoa nervosa, amarga, rebelde.
Até que um dia conheci um cara que jogava tarot e fui até la. Não só joguei tarot como me envolvi completamente no candomblé. Eu era uma das responsáveis pelo centro.
Minha vida realmente mudou, toda aquela angustia passou e eu me sentia feliz, nova e sentia que podia fazer o que quisesse. Toda aquela rebeldia, irresponsabilidade, agressividade na rua passou e me tornei inimiga da minha família. Minha visão abriu completamente e eu vivia com medo e dependente de trabalhos.
Eu tentava sair, mas sempre acontecia algo muito grave e eles diziam que eu não podia largar meu povo, que eles precisavam de comida e eu precisava raspar a cabeça (fazer o santo). Eu disse não e bati o pé.
Foi quando comecei a me angustiar, eu incorporava e ficava bem, mas no dia seguinte, parecia que eu tinha sido atropelada de tanta dor no corpo.
Ate que resolvi sair e comecei a ter uma vida “normal” Micares, festas, viagens... e comecei a jogar tarot.. mas após cada jogo eu me sentia cansada, esgotada, dores de cabeça e a depressão novamente chegou até mim.
Minha mãe e minha irmã sempre diziam pra eu ir ao revisão de vidas.. até que um dia, após eu ter brigado com meu namorado, resolvi ir apenas pra não encontra-lo e nem ter como falar com ele.
Mas foi muito em cima da hora e os pastores não permitiram que eu fosse.. eu nunca tinha ido em célula, em igreja em nada.
Chegando em casa minha mãe ficou nervosa por eu não ter ido e de repente no meio de uma briga com meu padrasto, ela manifestou. No dia seguinte cheguei na casa dela para almoçar e fiquei sabendo do ocorrido e aquilo foi demais pra mim pq eu sabia a causa de tudo isso e conversando com minha irmã, eu manifestei também.
Acordei umas horas depois com um casal ao meu redor.. pastores Mauricio e Ana Paula.
Os pastores me consolidaram e eu fui para o revisão, continuei fumando e bebendo.. ia para as festas.. mas a pastora me dava célula toda semana e nunca desistiu.
Ate que os pastores foram enviados para a sede e eu fui junto.
Ate que resolvi fazer outro revisão e ali fui liberta de muita coisa.. Mas não consegui largar o cigarro.
Até o dia que a pastora me semeou para o Hugo e Luiza.
No revisão seguinte, com o apoio dos meus lideres, eu decidi fazer novamente.. as manifestações foram mais fortes e eu não entendia o pq disso não parar nunca.. se eu apenas fumava. Eu não consegui parar e as dificuldades apareceram.
Bati o carro, passei a ter muito medo das coisas, de escuro, de ficar sozinha. Via e ouvia pessoas andando na minha casa por toda a madrugada, acordava com pessoas na beira da minha cama. Foram muitas as vezes que decidi sair e largar tudo, mas sempre contando com o apoio dos meus lideres. Não mentia para eles em hipótese alguma e qlq coisa que acontecesse, eu contava também. Até a quantidade de cigarros q eu fumava por dia.
Após muitos ocorridos, meu líder me propôs um jejum de 21 dias. Após esse jejum faríamos uma libertação e eu seria liberta, mas para isso eu teria que largar definitivamente o cigarro.
Fizemos e jejum e fui liberta. E para minha surpresa, não senti mais vontade de fumar.
Hoje, posso dizer que minha vida foi transformada.
Após minha conversão, não ganhei um ótimo emprego, nem mesmo um emprego e nada material. Não fui aquelas novas convertidas que pede carro, e ganha Mercedes, pede emprego e ganha uma empresa.. Tudo que conquistei, ate minha fé, foi a base de provações, choros, lutas.. foi tudo com muita dor e eu apesar de tudo, perseverei. Muitas vezes tive vergonha de assumir que ainda acreditava, que estava ali pq eu cria que minha vida ainda seria transformada.
Hoje, eu acredito que minha fé é verdadeira. E a pessoa que me tornei hoje, foi graças ao meu Pai, que não terminou o seu trabalho comigo. Todos os dias existem novas provações para mim e vou passando por elas de uma a uma.
E hoje, apesar de não ter conquistado bens materiais, me alegro pq conquistei o melhor. Minha fé, minha maturidade e minha força pra continuar sempre lutando.
E eu creio que tudo isso é só o trailer da minha vitória.
Fernanda Py
